quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Meia Maratona de Egmond - Holanda - POR SIMONE WESTERDUIN

E Hoje a Simone passa por aqui pra contar a História incrível dela correndo a Meia Maratona de Egmond na Holand! Uma prova muito dura! Antes de mais nada, Parabéns Si! Te admiro muito!


"Dia 12 de Janeiro de 2014 vai ficar marcado na minha curta história como corredora. Em um período de 4 meses eu corri as duas provas consideradas mais "osso" aqui nos Países Baixos.
Em Outubro eu corri a meia maratona de Monster. O que faz essa maratona ser from hell? Dos 21k, 17 são correndo literalmente na areia da praia, alguns quilômetros a faixa de areia é tão pequena que você corre na água, tênis molhado, afundando na areia, vento cortando o rosto e ressecando os lábios... enfim correr 17km com os pés afundando na areia não é moleza. Completei a prova com 1:59 min e cheguei na posição de número 17 entre as mulheres na minha categoria. A maratona de Monster não é tão famosa, não tem medalha e por isso mesmo os participantes não passavam de uns 500.

Sobre a Meia Maratona de Egmond... lá vem historinha...
Desde que eu comecei a correr uma amiga holandesa que já corre Egmond há 11 anos sempre dizia na brincadeira que só me respeitava o dia que corrêssemos Egmond juntas.


Porque Egmond é faca na caveira?

1 - É uma prova que acontece no meio do inverno Europeu. Em muitas edições dessa meia maratona os competidores correm em meio a nevascas e temperaturas absurdamente frias. O que requer todo um aparato (vestuário, acessórios...)

2 - Egmond é uma cidade litorânea, a prova é parte na areia da praia, são 7km de faixa de areia. O problema com Egmond é que molhar o pé é fatal, correr com o tênis molhado e temperaturas negativas é um passo pra hipotermia. Eu vi muita gente correndo com aqueles thermal barefoot "tênis" que são perfeito pra provas nessas condições, além de serem térmicos.


Bem eu não tinha nada disso. Egmond é uma espécie de rally de corrida. São 5km nas ruas da cidadezinha, até entrar na areia da praia, depois uma subida pelas dunas, até cair em um Parque Nacional, onde os corredores enfrentam muita lama nas trilhas estreitas entre as árvores e dunas.
Portanto a combinação de temperaturas extremas, vento, relevo, subida, descida, lama, mar realmente exige um condicionamento físico extremo. E no dia que eu fui correr Egmond deu tudo errado.
Primeiro eu fiquei enrolando pra me inscrever (eu fui diagnosticada em Outubro com Sindrome de Raynaud),  correr no inverno pra mim envolve muita dor, eu não sinto os dedos dos pés, das mãos, dói tudo e durante os treinos eu chegava em casa chorando, não tem luvas ou meias térmicas que resolvam, mas mesmo assim fiquei de olho na previsão do tempo e duas semanas antes da prova eu tentei me inscrever e já não haviam mais vagas. Tentei por mais de uma semana comprar o número de alguém e nada. Desisti, achei mesmo que não era pra ser. No sábado de manhã, um dia antes da prova a amiga holandesa liga dizendo que tinha um número de alguém que se machucou, se eu topava correr Egmond. Aceitei na hora. Não consegui dormir na noite anterior, acordei ás 6 da manhã, Egmond é super longe de onde eu moro, isso incluía quase 2h de trem e mais o ônibus da organização da corrida até o local. No meio do caminho parei pra tomar um café e esqueci a minha mochila com TUDO dentro na cafeteria da estação em Amsterdam (até ai eu não sabia que tinha sido na cafeteria) e só lembrei da mochila quando cheguei na estação final. Sabe aquele aperto no coração? Era monitor cardiaco, ipod, chaves, carteira com tudo, lanchinho, garrafa termica, luvas, jaqueta... tudo estava lá dentro. Sentei na estação e chorei. Não sabia se havia perdido a bolsa no trem ou sei lá onde. Nesse momento meu herói entrou em ação: meu marido. Ele meu deu um super apoio, disse que eu já tinha chegado até ali, e com bolsa ou sem bolsa eu iria correr, afinal não correr não iria me ajudar a encontrar a mochila. Ele iria refazer  caminho de trem, ir até a cafeteria e eu pegaria o ônibus da organização da corrida e foi o que eu fiz.


Entrei no ônibus completamente desolada, encontrei a colega holandesa com o meu número, o rapaz chamava Marko e eu ouvi piadinhas o caminho inteiro por isso. Outro fator é que eu sou movida a música, nunca corri sem música, eu marco o meu pace pela minha playlist, já cheguei a voltar pra casa no meio do treino porque a bateria acabou. Como eu iria correr sem luva, sem jaqueta corta vento e sem mp3? Deu a largada e a cabeça a mil. Fui correndo, pensando em tudo que aconteceu até chegar ali, como eu queria um dia correr aquela prova e a mente foi ficando limpa, o pé encharcado de água, os lábios sendo cortados pelo vento, os olhos enchendo de areia, depois a lama voando no rosto e quando eu vi lá estava a reta final, os 21k do "inferno de Egmond" como a prova é conhecida estava superados, vencidos e o meu maior prêmio foi encontrar meu marido na chegada com segurando a minha mochila que ele havia encontrado. Foi muita emoção.




Terminei a prova com 1h54 min e poderia ter sido melhor se não fosse o fator aglomeração, isso realmente atrapalha o desempenho mas com essa prova e a de Monster eu aprendi uns truques valiosos que eu gostaria de comentar.

1- No momento em que fizer a inscrição para provas, normalmente você tem que indicar no formulário o tempo que pretende terminar a prova. Eu sempre coloco a mais do que o tempo nos treinos, mas na verdade o truque é jogar o seu tempo lá pra cima e ficar no pelotão mais rápido. Em Egmond eu fiquei em um pelotão muito grande, não conseguia dar passadas no meio da aglomeração, era uma parede humana. Na parte da areia, todo mundo queria correr na faixa estreita de areia molhada, terra mais firme porque correr na areia fofa é dureza, então ficávamos todos em fila indiana. Não dava pra ultrapassar. Já em Monster o caminho era limpo, mas o vento era muito forte, ai vi a técnica de uma menina que correu  caminho todo se esquivando do vendo atrás de um corredor, assim ela se protegia do vendo que praticamente te arrastava, e depois que saimos da areia ela saiu linda ultrapassando todo mundo. Em Egmond corremos no horário que a maré estava alta, então não teve como evitar molhar o tênis.

2- É legal dar um gás no começo pra sair do meio da multidão, mas depois tem que aliviar o passo, já que é uma prova que exige muito nas subidas, vi muita gente parando no meio do caminho nessa parte.

3- Vista-se adequadamente. Eu estava com uma segunda pele térmica, a temperatura era de 1C, uma meia térmica e uma jaqueta normal (já que a corta vendo estava na bolsa), leve um protetor labial pra passar durante a corrida e leve também roupas secas pra trocar depois de correr, esse foi um dos meus erros de principiante. Eu fiquei completamente encharcada de suor e depois pra voltar pra casa com a roupa molhada, gelada grudando no corpo, tênis molhado... eu cheguei em casa azul e durante a semana toda fiquei na ameaça de gripe. Leve um outro tênis também.

Enfim, foi uma prova de superação, dizem os corredores mais experientes que se você corre Egmond, você corre uma maratona inteira e é isso que eu planejo fazer em Abril, correr meus primeiros 42.1 na maratona de Roterdã. Tem muito treino até lá, depois venho contar um pouco da preparação, mas estou feliz da vida com o meu resultado e a minha medalha dessa prova tão difícil.



beijão a todos.
SIMONE!

Correndo na Europa
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