terça-feira, 16 de setembro de 2014

A Meia Maratona de Budapeste - por Rafaella Goldenbaum

O Post de hoje é bem especial: mais uma amiga querida que o Instagram e a corrida trouxeram...a Rafaella (@pitanga_pitanguinha) mora aqui na Alemanha também e correu sua primeira Meia Maratona no Domingo em Budapeste!
Acompanhei sempre no instagram a rotina de treinos dela e foi muito bacana ver sua evolução!
Vale a pena ler o texto emocionante sobre a corrida da Rafa nessa cidade linda e especial.
Rafa, parabéns e obrigada pelo relato!


"Se tivessem me perguntado há um ano se eu gostaria de um dia correr uma meia-maratona, eu teria rido. Para mim, isso era algo muito distante e parecia até loucura. Mas conforme eu fui evoluindo na corrida, aos poucos aumentando as distâncias dos meus treinos, essa loucura começou a parecer algo mais e mais próximo. Me lembro bem quando fiz meus primeiros 10km! Fiquei tão feliz! E a partir dali senti que não era impossível, e comecei a sonhar com os 21km.

De uma coisa eu tinha certeza: eu queria que a minha primeira meia-maratona fosse especial, com um percurso mágico, em uma cidade que tivesse um significado especial para mim. Isso seria uma motivação a mais para concluir a minha primeira prova de 21km. Logo veio Budapeste à minha cabeça, cidade pela qual me apaixonei há quatro anos, com seus prédios majestosos e suas varandinhas e janelas cheias de charme, dividida pelo belo Danúbio, com suas pontes cheias de detalhes, ligando Buda a Pest (antigamente Buda e Pest eram duas cidades independentes), com o palácio de Buda imponente sobre a cidade, com o belíssimo parlamento em Pest, à beira do Danúbio. Foi assim que decidi: minha primeira meia-maratona tinha que ser em Budapeste! Fiz a inscrição sem saber se em setembro estaria preparada para correr 21km. Naquele momento eu pensei: se não der em setembro, faço a próxima, que será na primavera européia. Mas pelo menos eu tinha um objetivo para os meus treinos. O que me assustou a princípio foi o tempo limite da prova, que seria de 2 horas e meia, com um ônibus que seguiria os corredores, obrigando aqueles que estivessem muito devagar a embarcar, sendo assim desclassificados. Eu não queria ser pega pelo ônibus!
 

 

Depois de três meses e meio de treino específico para meia-maratona, chegou o grande dia: domingo, dia 14 de setembro. A ansiedade nos dias anteriores foi grande, mas muito positiva. Não via a hora de ouvir o tiro da largada e iniciar o percurso. Nos dias anteriores à prova choveu muito, às vezes a pancadas, às vezes só garoa, mas sem parar. A previsão do tempo dizia 90% de chance de chuva naquela manhã da prova, o que estava me inquietando um pouco. E se a chuva estivesse muito forte? Mas como um milagre, não caiu nenhuma gota. Nenhuma. O tempo permaneceu nublado e o ar muito úmido, mas a chuva não veio, e no final até apareceu um sol tímido.

Havia 13.500 inscritos para a prova, sendo 1.700 corredores de fora da Hungria. Esta prova conta como o campeonato húngaro da modalidade, então muitos atletas profissionais do país estavam presentes. A largada aconteceu em quatro grupos, divididos de acordo com o pace dos participantes. Eu me coloquei no último grupo e portanto tive que segurar a ansiedade por mais uns bons 15 minutos até poder dar largada. Mas logo chegou a nossa hora, e nossos pés começaram a dar suas passadas apressadas alameda abaixo rumo à famosa Praça dos Heróis, e em seguida à rua Andrassy út com os belos prédios das embaixadas, passando pela Casa do Terror, pela Ópera, e ao final, pelas boutiques de marcas famosas. Os primeiros 5 km passaram muito rápido. Logo estávamos atravessando a primeira ponte do percurso, a Ponte da Liberdade, indo de Pest para Buda, com vista para o tradicional hotel Gellert. Continuamos à beira do Danúbio até chegar aos pés do palácio de Buda, onde pegamos a ponte mais famosa da cidade, a Ponte das Correntes, voltando a Pest. Em algum ponto antes dali, senti meu primeiro cansaço e notei que cometi o típico erro de iniciante: comecei mais rápido do que deveria e gastei muita energia na primeira metade da prova. Mas logo passamos pela marca de 11km e eu pensei comigo 'a metade já foi, mesmo diminuindo a velocidade agora, o ônibus não me pega'.




Tinha muita gente pelas ruas dando força aos corredores, em muitos pontos havia músicos alegrando o percurso, desde de um dueto de violino e cello se não me engano, até banda de blues e batucada. O clima da prova foi ótimo, muito alto-astral! Havia também os participantes de revezamento, que podiam formar duplas ou trios. Os pontos de revezamento estavam sempre muito bem sinalizados. Os pontos de refrescamento foram sempre muito bem organizados, oferecendo água, bebidas isotônicas, banana, e nos últimos quilômetros também coca-cola.

Passamos pelo parlamento, correndo à beira do Danúbio, sempre com muita gente assistindo e vibrando. Em algum ponto depois disso, quando já havíamos passado a marca de 14km, o cansaço tomou conta. Minha cabeça dizia 'eu não agüento mais, quando isso vai acabar?'. Mas eu sabia que já tinha feito mais da metade, então aumentei o volume do iPod, que naquele momento estava tocando „Survival“, o tema que o Muse fez para as Olimpíadas, que combinou muito bem com a situação, e segui em frente, concentrando minhas forças na linha de chegada. A partir dali quase não consegui mais curtir o trajeto, só me concentrei na corrida. Depois da marca de 16km senti minhas pernas pesadas, me bateu um enjôo constante e minha canela doía. Nunca tinha sentido essa dor. Mas consegui ignorar esses sinais e me concentrar no meu objetivo. Já perto do km 18 nos esperava uma subida que, para mim, naquele momento, pareceu monstruosa. Uma subida de um viaduto ao lado da bela estação de trem do oeste, que foi planejada por Gustav Eiffel, o mesmo da torre símbolo de Paris. Eu pensei 'bora diminuir a velocidade e encarar a subida, tudo que sobe, desce! Depois recupero o tempo perdido'. Mas mesmo diminuindo a velocidade na subida, ao chegar no plano o enjôo e ânsia de vômito se tornaram insuportáveis e eu tive que parar, respirar fundo, agachar e esperar passar a sensação desagradável. Tentei correr de novo, mas minhas pernas pareciam sacolas cheias de tijolos. Passei então a caminhar com o intuito de voltar a correr aos poucos. Mas logo um rapaz bateu no meu ombro e disse algo de incentivo, e bastou isso para eu voltar a correr. Fui lado a lado com o meu incentivador, e mais afrente foi ele quem parou e começou a caminhar, mas eu disse 'não, você não vai parar agora!'. Continuamos correndo. Faltava menos de 2km! Ao mesmo tempo que esses últimos 2km foram uma luta, eles também passaram muito rápido. Passamos pela praça dos heróis de novo, mas nem pude admirá-la. Entramos na alameda que guiava até linha de chegada. Estamos chegando! Eu gritei. O meu companheiro quis parar novamente e eu disse 'não, estamos quase chegando, só mais 500m!'. Ao nos aproximarmos da marca de 21km, eu disse 'eu não tenho energia para o sprint final', mas ele disse 'tem sim'. E demos uma acelerada nos passos, e passamos pela linha de chegada com muita emoção.

Passando da linha de chegada, toda dificuldade desapareceu. A dor nas pernas estava ali, a sensação desagradável de enjôo também, mas foi como se tivessem sido anestesiadas pela felicidade imensa que me invadiu ao ter passado pela linha de chegada e completado a prova. A minha primeira meia-maratona! As medalhas estavam sendo distribuídas logo depois da linha de chegada, para coroar o feito. Que emoção!





Ao redor, muitos rostos suados e felizes curtiam a mesma sensação de felicidade e missão cumprida que eu. O narrador falava coisas em húngaro. Alguns riam e admiravam suas medalhas, outros alongavam as pernas cansadas, outros davam uma força para quem ainda estava chegando. Peguei minha sacola com água, doces e frutas, para repor as energias, e fiquei observando os que ainda chegavam. Quando parecia que já não viria mais ninguém, e os organizadores começaram a interditar a linha de chegada, um senhor de 82 anos veio se aproximando, com passos largos e muita força de vontade e determinação, recebido com muitas palmas, gritos de incentivo e assobios. Lágrimas escorreram dos meus olhos. E essa imagem só me comprovou mais uma vez que a corrida é o esporte mais lindo que existe. Já não posso esperar pela minha próxima meia! E com certeza repetirei a meia-maratona de Budapest, e super recomendo esta prova para quem quer unir o amor à corrida ao amor por viajar! "
 
 
 
Rafaella
@pitanga_pitanguinha
 
Correndo na Europa
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