quarta-feira, 2 de abril de 2014

A Maratona de Barcelona - Por Fernanda Evangelista

O post de hoje é muito especial! Post da mais nova Maratonista do pedaço!!! A Fê Evangelista, mais conhecida como @forçanapaçoca!!! Ela sempre foi uma verdadeira inspiração pra mim pela sua garra e determinação (acompanho tudinho no Instagram dela) e eu torci do começo ao fim pra tudo dar muito certo nessa primeira Maratona dela.
Ela correu a linda prova em Barcelona e no texto abaixo estão todas as impressões dela sobre a prova! Vale a pena ler!
Fê, mais uma vez, muito obrigada!

"Corro há 4 anos, e desde quando comecei a entender o que era a corrida, suas distâncias, suas nomenclaturas, eu já sabia: um dia faria uma maratona!

Vinha de um sedentarismo, de uma vida cheia de excessos e consequentemente nada saudável, e quando eu resolvi que deveria dar um basta nisso foi a corrida quem me ajudou! Por ela “abri mão” de um monte de coisas pra que pudesse ter fôlego. Principalmente parei de fumar por ela!

Minha primeira medalha foi em uma caminhada de 4km do GRAAC, fiz em 40 e poucos minutos! E mesmo sem correr em nenhum trecho, sabia que era esse clima que queria pra mim.  Já sai e me inscrevi para uma prova de 5km, mas dessa vez eu a correria!

Nessa prova de 5km do Circuito Delta, minha meta era fazer em no máximo 35’, mas lembro que fiz abaixo dos 30’, e isso foi a picada que faltava! Já sai praticamente inscrita numa de 10km!  

Alguns anos se passaram e a maratona começou a me chamar, praticamente me pediu pra que eu fizesse! Fui escolhida! Rs

Quando mais ou menos em junho de 2013 eu pesquisando sobre o assunto na internet, daquelas pesquisas que passamos horas sonhando em fazer quase todas as provas, resolvi e escolhi Barcelona. Mas por que Barcelona?

Antes dessa virada na minha vida, de sedentária para corredora que se acha atleta, eu tinha passado um mês pela Espanha, e foi ao voltar que muita coisa mudou em mim. Então fazia sentido, ao menos pra mim, claro, voltar pra lá e fazer a minha primeira maratona nesse país que tanto amo!  
 
Tinha começado a fazer fisio com o David Homsi (@davidhomsi) nessa época, e como a Debs (@blogdadebs) diz, eu era a psico das provas de fim de semana! E por isso estava extremamente desgastada. Sempre com dores, os treinos não encaixavam nunca, não existia evolução, só regressão. E, óbvio, isso me preocupava pra caramba! Como faria uma maratona com tantas dores no quadril? E como correr 42,195km sendo que se passasse de 10km já era complicado?
 
Por indicação do David, fui num ortopedista que me ajudou muito! Fizemos milhares de exames, RNM, Rx e afins e constatou uma lesão no labrum do acetábulo esquerdo. Uma lesão estrutural, mas que com o excesso ela estava, digamos, atacada. Me lembro que perguntava sobre a maratona, se conseguiria fazer, mas também estava preocupada com as provinhas que tinha feito inscrição. Ou seja, a ideia que tenho hoje é que eu queria fazer a maratona em 8 meses, mas não era algo que eu achava realmente palpável... Vontades de momento pelo sonho maior ganhavam nessa conta ainda.

Pra reduzir o blá blá blá e ir para o que importa, em setembro fiz uma infiltração, pq se funcionasse muito bom, caso a dor permanecesse era faca. A dor passou, amém! Rs
 
Isso era praticamente outubro, e eu queria mas nada de mover a bundinha... e em dezembro por indicação da Debs, David e Rafa Prado (@raprado) comecei com a CM Team (@cmteam), faltando 3 meses!

Quando comece, no dia 14 de dezembro, eu perguntei se o San Palma  (@sanpalma)achava que seria possível eu fazer uma maratona em 3 meses. Ele disse que sim e que eu podia confiar e fazer a inscrição. Na mesma hora entrei no site fiz a inscrição, reserva em hostel, passagem de avião, tudo! Pra não ter como fugir! Ou ia ou ia!
 
E então foram treinos, muitos treinos de madrugada, sozinha no Ibirapuera, na USP... Só eu e meu marido que foi parte mais que fundamental pra que eu pudesse realizar esse sonho. Madrugando comigo, me levando, ficando como apoio nos surtos em casa, depois de treinos... Sem ele teria sido tudo muito mais difícil.
 
Quando comecei a treinar meu pace estava ridículo! Vinha de uma prova cheia de pirambas onde me destruiu por um mês. Dezembro me lembro que foi um mês lento... Janeiro as coisas melhoraram muito! Mas em fevereiro eu era outra! Falo que é bizarro os comparativos entres os meses na questão de desenvolver uma corrida leve, que sai, aquela que vc termina o treino feliz, dizendo “hoje foi”! Nos últimos treinos o San me disse que estava pronta, os ensaios já tinha feito, agora era esperar o baile!

Passei pela clínica do fisio Atef Yassin, e ele aos poucos foi me colocando no lugar, até que na última visita, véspera de embarcar, ele disse que estava pronta! Que nunca tinha me visto tão bem! E isso deu uma confiança que faltava! Teria dores, mas só as que maratona proporciona, não as dores que me acompanhavam por 4 anos de corrida.

Cheguei em Barcelona na quinta e na sexta teria a retirada do número, chip e a expo. Imagina se não estava uma pilha de ansiedade? Quase nada! Rs

Na quinta nem abriu a feira estava na porta! Foi super tranquilo! Estava preocupada pq meu número de passaporte na inscrição era do antigo e eu tinha esquecido de levar (drama no embarque em SP) e só estava com o novo. Mas nem aconteceu nada! Ufa! Estava com meu dorsal (como eles chamam lá) e meu chip, agora era turistar pra tentar relaxar.
 
 

Vou confessar que até então minha ficha não tinha caído. Aliás, ela demorou muito pra cair que eu faria uma maratona, que eram 42, 195km, pq na minha cabeça eu divide a prova em várias de 5km, que era como a nutri dividiu minha suplementação. Pra mim isso facilitou muito pra não ficar toda cheia de medo. Medinho, claro, mas nada absurdo!
 
Na véspera, no sábado, teve a Breakfast Run. Uma confraternização entre os que correriam no dia seguinte e mais familiares, amigos... Eram 4,195km, sendo esses os últimos km da maratona das Olimpíadas de 1992, terminando dentro do Estádio Olímpico! Provinha divertida, cheia de crianças, descontraída... E ao entrar no Estádio Olímpico, deu uma emoção enorme! Indescritível! Mas lembro que a primeira coisa que me passou na cabeça foi “imagina fazer treino de tiro nesse lugar?”. Louca!! Marido correu tb, foi muito bacana! Depois serviram um café da manhã com banana, mexerica e rosca doce.
 
 
 
 
 
E enfim, chegou dia 16 de março! Era 5h quando o despertador tocou, eu já estava acordada, óbvio! Mas estava relativamente tranquila.

Fiz café da manhã, suplementação, organizei todos os géis nos bolsos, cápsulas... E fomos para o metro! Ainda não tinham muitos, mas os poucos que tinham já me mostravam que eu estava no meio de um bando de corredor em busca dos 42,195km, e todos concentrados a sua maneira para atingir o objetivo. É uma coisa meio doida, isso! Mas aos poucos eu me dando conta do que estava fazendo ali!
 
 
 
 
 
 
 
Ansiedade, muita ansiedade! Me distraía com as figuras que via perdida por lá, sem pensar em estratégia de prova, nada disso, já tinha repassado isso na minha cabeça, agora era momento de relaxar, concentrar e tentar não noiar!
 
Fui para baia. Consegui entrar na que eu realmente deveria ter me inscrito (mania de me subestimar...), e era um mar de gente! Eu estava na penúltima onda. Estava numa rua que nem era a rua da largada! Estava eu e o Jaques de Campos (@jaques33) , que no dia que desembarquei perguntou se eu não queria que ele corresse comigo. Aceitei, claro!

Aos poucos íamos andando até a largada, todos batendo palma, levantando os braços... Uma festa, mas era uma festa contida, concentrada! E quando chegamos próximo da largada começou a tocar Pearl Jam! Pronto, ali eu chorei! Pela primeira vez! Era minha essa prova! Isso foi o ponto que precisava para acreditar que eu podia! Tudo conspirando a favor!
 
 
 

Largamos!
 
Não procurei estabelecer ritmo no começo, tinha meu pace meta, mas queria primeiro sentir a prova, me sentir, e depois encaixar. Mas encaixou de prima! E que percurso lindo! Os 14km primeiros foram deliciosos! Clima fresquinho, ritmo encaixado! Tava tudo lindo!

Só que imprevistos acontecem... E eu precisava urgentemente ir ao banheiro! Meus temores e fantasmas de treino vieram me visitar no começo da minha prova! Eu pensei: fudeu! Passada a Sagrada Família (lindaaaa), falei com o Jaques e fui num botequinho! Nisso foram 2 minutos da minha prova! O desespero de ver o ritmo que estava perfeito, cair! Mas ok! Tinha que parar, imprevistos acontecem e vou buscar recuperar! Aqui o Jaques foi fundamental pra que eu mantivesse a calma! Não ia me desesperar! Não podia! Então, tê-lo ali me fez pensar calmamente e com praticidade. O que ajudou nos kms que vinham...

Parada nada estratégica feita, voltamos, e eu tentei recuperar... Mas depois da parada a perna resolveu dar uma pesada, mas eu não dei bola! Queria recuperar e manter o ritmo delicinha que estava! Pq uma coisa é certa, quando a gente sente uma dor e dá ouvidos a ela no meio de uma prova dessas, vc tá entregue! Pq ela vai piorar, vão surgir outras, e isso pode por tudo a perder!
 
Na hora de fechar a meia eu bati meu recorde e ainda fiz sub 2h, que sempre quis fazer! Isso deu um gás, apesar do percurso nesse momento ser chatinho!
 
 
 
E tinha gente incentivando, gritando, batucando em todos os momentos! Em alguns pareciam aqueles corredores poloneses, de tanto que afunilava de gente! Era algo que eu nunca tinha visto! Longe de ser qualquer São Silvestre, que acredito que seja uma das poucas provas que ainda vão as pessoas incentivar pelas bandas daqui.
 
No km, eu tentei não ficar pensando em paredão, naquelas histórias que todos contam. Tentei manter meu ritmo. O que pesou nesse momento foi o calor! Foi tenso lindar com esse mudança de temperatura. E o calor começou a pesar num trecho também chatinho da prova, entre o km 27 até o 36. Foi, pra mim o trecho mais chato da prova, o mais cansativo mentalmente. Não tinha sombra, era um plano sem muitos atrativos. Aqui posso dizer que foi chato correr! Mas mesmo com o ritmo tendo caído um pouquinho, não foi nada absurdo, que eu considere uma quebra.
 
No km 37 o Jaques iria parar, mas não me lembro bem como foi, sei que ele continuou! E isso mais uma vez ajudou! Pq ele não me deixava desanimar, e ele foi um mega amigo! Pegou água em todos os postos pra mim! Isso, pra quem correu uma prova cheia assim, sabe o adianto que é!
 
A cabeça numa maratona dá uns loops malucos! Ela em 5 minutos te coloca confiante, e no 5 minutos seguintes você consegue pensar na morte da bezerra e isso te coloca pra baixo! É doido demais! Mas uma delícia! Porque mesmo correndo com a companhia do Jaques, a gente corre sozinho! Maluco isso! A cabeça é sua, só você sabe o que se passa ali dentro! Eu sei que quando dava uma desanimada eu pensava que acabando ali eu poderia comer o que quisesse! Hahahaha #gordoéfoda Ah! E funcionava!
 
 
 
No km 40 eu já foi quando eu pensei pela primeira vez “já deu, né?! Pode acabar!”. Mas passar na frente da catedral de Barcelona me deu uma animada, ali quase chorei! Lembrei de quase 5 anos atrás, quando estava na mesma Barcelona, e o pq de ter escolhido essa cidade para ser minha primeira maratona! Foi, acho, que depois da largada, o momento que eu percebi onde estava, o pq de estar ali, e acreditei que podia!
 
Mas a perna estava um pouco cansada já, e ela não acompanhava mais a cabeça, mas não desisti! Falava o tempo todo: “vamos que falta pouco, agora é voltinha no lago, quem não faz?” (né, Rê Moretti?! Rs). Balas de goma pra dar um up dos ursinhos gummy, e foco! Deu uma animada! Mas o cansaço tava gritando.
 
Faltando 1km o Jaques apertou um pouco e eu tentei acompanhar, pq agora era pouco, estava ali na frente... Nos metros finais, pelo meu garmin corri uma ultra, pq deu 42,800km, e por ele os meus 800m finais foram melhores que qualquer treino de tiro feito até então! Rs

Dei um gás, corri... Nem sabia se tinha perna ainda ou não, vi o pórtico, e lá estava que ainda conseguiria fazer como tinha sonhado... Cheguei! Ufa! Cruzei a linha! Há! Não, eu não chorei... Não, minha ficha não caiu... não gritei, sequer levantei os braços pra comemorar... a ficha não tinha caído! Ia comemorar o quê? Só dei um abraço no Jaques, que deve ter me achado estranha! Tipo, essa mina acabou a primeira maratona e nem comemora! Rs
 
Tirei o chip... aliás, um parto tirar depois de correr! Rs

Peguei a medalha! E fui encontrar o gordo, que ficou 4h00min01 segundos me esperando! E a medalha era dele!  
 
 
 
Ali eu já comecei a me sentir órfã! Como se me faltasse alguma coisa! Essa sensação foi muito maior, mais forte que qualquer outra! Não sei se isso acontece com as outras pessoas, mas eu estava feliz por ter finalizado um ciclo, por ter realizado um sonho, por ter aproveitado o baile! Mas a minha vontade era de começar tudo de novo!
 
Essa sensação ainda está aqui, sinto que me falta algo. Logo talvez encontre um objetivo parecido, mas esse já foi! E foi bom! O processo todo me mudou, me fez melhor. Me fez acreditar mais que eu posso. Pode parecer clichê, bobices e afins, mas é a pura verdade. Hoje isso faz sentido pra mim!
 
 
 
Não consegui fazer no tempo que queria por míseros 2 segundos (queria sub 4h), mas a experiência foi tão boa, tão intensa, que fodam-se os 2 segundos! Eu aprendi nessa maratona que consigo lidar com o inesperado melhor que pensava, que por mais ansiosa, eu consigo e tenho controle sob mim... e esses 2 segundos a menos teriam me feito esquecer todo o meio da prova, que foi o que me ensinou muito mais sobre mim que poderia ter aprendido se tivesse atingido a meta.
 
E ah!! Eu sou maratonista! #bjonamedalhaquerida ;)"

 
 
Fernanda Evangelista
@forçanapaçoca
 
Correndo na Europa
@correndonaeuropa
#correndonaeuropa
 


 

 

 

 

 

3 comentários:

  1. Oie meu Deus!!! me deu um frio na barriga lendo Fer! Que orgulho, que emoção, que tudo!!!! Semana que vem é a minha, a cabeça já tá toda bagunça.

    beijao e obrigado por compartilhar sua experiencia.

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  2. Oi Fernanda,

    Pratico triathlon há um bom tempo e fui diagnosticada com a mesma lesão que a sua...desanimada...estou bem pra baixo...como sou mais velha que vc...só ouvi coisas desanimadoras.
    Porém lendo sua experiência...quem sabe ainda não acabou pra mim...
    Bjx,

    Helga

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  3. Helga!!!!
    Acabou não!!! Procure um especialista em quadril.
    Hj não tenho mais dores!
    Conheço pessoas que a solução foi a cirurgia e em 3 meses já estavam de volta tb.
    Espero que seu caso seja simples! Pq super te entendo a frustração de querer fazer algo que amamos e por conta de uma dor não conseguirmos!

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